segunda-feira, março 16, 2009

Qual o crime da memória?

Hoje pela manhã...
lendo a apresentação do livro de Eric Hobsbawm
Era dos Extremos: O breve século XX - 1914 - 1991
me deparei com a seguinte afirmação:

"Quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem."

É o ponto de vista do historiador, que analisa em retrospectiva os acontecimentos,
que trabalha para manter a memória do mundo
e que se confronta com uma sociedade do imediato, do só existe hoje.

Fico me perguntando por que esquecemos?
Qual o crime da memória? Que atrocidade ela cometeu?

Se houve alguma, fomos nós os responsáveis.

Então esquecer pra quê?
Pra nos esquivarmos da responsabilidade?
Pra fingirmos que somos perfeitos?

A história da humanidade não é feita exclusivamente de belas páginas...
é feita também de dores profundas.
E nós... somos isso:
Fruto de humanas criaturas que geram humanos outros.
A informação, a cultura, a educação que recebemos vêm de longas vivências que,
se não foram diretamente vividas por nós,
são nossas por nossa origem.

Se os erros existem eles devem ser lembrados.
Mas não pra amargurar.

Eles devem ser lembrados pra nos felicitarmos em tê-los sobrevivido!

Pra modificarmos as rotas que dão em nada.
Pra construirmos pontes que unem e diminuem distâncias.
Pra sermos completos e não tão somente uma parte de nós.

Ser inteiro é não esquecer e mesmo assim continuar.

Prefiro guardar as lembranças e acreditar que posso fazer diferente.

E você?

:)

3 comentários:

Improviso disse...

E lendo o outro texto teu sobre aqueles que procuram passar despercebidos nos padrões sociais eu pensei: a tão esperada unidade de sentido em ser um ser humano pregada na Modernidade é uma ilusão. permaneço na leitura de ti e li: "Ser inteiro é não esquecer e mesmo assim continuar". (Ouço agora Paranoid Android). em mim, é uma graça tamanha esquecer. e não me parece que seja fugir das minhas responsabilidades, mas para lembrar de quem eu sou e que eu perdi quando lembrei-me daquilo que arrancou uma parte de mim. E mais: que me impediu de continuar. sendo trivial: não gosto dos historiadores apesar de reconhecer que estamos suplantados em raízes bem profundas e anteriores de nós. mas prefiro pensar e sentir que sou uma amálgama daquilo que desconheço. sobretudo, acredito que é preciso esquecer para lembrar. abrir e fechar gavetas para ter a surpresa ou a dor do que se foi e do que virá a ser.

Angela Francisca disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Angela Francisca disse...

É engraçado como tudo me parece agora questão de ponto de vista. Sim lembrar, mas sim esquecer. Deixar-se levar pelo desconhecido (do que não se recorda), entretanto lembrar-se do que se é. Acho que não somos só história, mas o que fazemos de.. e com.. nossa história. E é engraçado, porque ao mesmo tempo é o que se faz dentro do conhecido e desconhecido. É sempre um risco viver. É sempre preciso coragem pra ser. Porque somos parte de algo que sabemos, mas sempre muito do que ignoramos. Como diria Clarice... entender é limitado, não entender é muito mais amplo.
:)