domingo, outubro 09, 2011

A flor da lama.


Buda e a Flor de Lótus 


Buda reuniu seus discípulos, e mostrou uma flor de lótus - símbolo da pureza, porque cresce imaculada em águas pantanosas.
- Quero que me digam algo sobre isto que tenho nas mãos - perguntou Buda.
O primeiro fez um verdadeiro tratado sobre a importância das flores.
O segundo compôs uma linda poesia sobre suas pétalas.
O terceiro inventou uma parábola usando a flor como exemplo.
Chegou a vez de Mahakashyao. Este aproximou-se de Buda, cheirou a flor, e acariciou seu rosto com uma das pétalas.
- É uma flor de lótus - disse Mahakashyao. Simples e bela.
- Você foi o único que viu o que eu tinha nas mãos - disse Buda.

De ir embora.

Sair de casa é difícil pra quem sai e pra quem fica.

A dor do outro não é menor que a minha só porque não a sinto.
Nem preciso fazer o outro sangrar pra ter certeza de que sabe que sofro.

Sair de casa é ato de coragem.
Se desacomodar para tentar sair do lugar e conhecer o que é inexplorado do lado de dentro de paredes pintadas.

Sair do quarto cor-de-rosa. Do céu sempre azul.

É preciso provar da chuva pra saber seu sabor.

Como dizer que vivo se não comprovo a naturalidade dos meus atos?
Mantendo-me em ambiente salvo e controlado jamais saberei.

É preciso sair de casa. Mesmo com a dor.
E isso não é cruel. 

Sair pela porta afora é um movimento de sabedoria.
De carinho por si e pelos outros - de respeito pela vida incessante que pulsa em cada ser.

Como me julgar mal por executar algo tão nobre?
Porque me crucificar como um Cristo?
Como um Judas?
Como um Escariotes?

Sempre fui o mais sincera e leal aos meus.
Não abandonei ninguém.
Apenas gostaria que se pudesse seguir.

Se alguém se recusa a ir adiante, não posso evitar que eu o faça.

Nascer nos coloca em compromisso com o mundo, não apenas com o ventre.

Sou minha e do universo, sem ser de mais ninguém.
Escolho minhas companhias por liberdade.
Não por dependência.

Devo andar. 
E não me espere pro jantar.