domingo, outubro 09, 2011

De ir embora.

Sair de casa é difícil pra quem sai e pra quem fica.

A dor do outro não é menor que a minha só porque não a sinto.
Nem preciso fazer o outro sangrar pra ter certeza de que sabe que sofro.

Sair de casa é ato de coragem.
Se desacomodar para tentar sair do lugar e conhecer o que é inexplorado do lado de dentro de paredes pintadas.

Sair do quarto cor-de-rosa. Do céu sempre azul.

É preciso provar da chuva pra saber seu sabor.

Como dizer que vivo se não comprovo a naturalidade dos meus atos?
Mantendo-me em ambiente salvo e controlado jamais saberei.

É preciso sair de casa. Mesmo com a dor.
E isso não é cruel. 

Sair pela porta afora é um movimento de sabedoria.
De carinho por si e pelos outros - de respeito pela vida incessante que pulsa em cada ser.

Como me julgar mal por executar algo tão nobre?
Porque me crucificar como um Cristo?
Como um Judas?
Como um Escariotes?

Sempre fui o mais sincera e leal aos meus.
Não abandonei ninguém.
Apenas gostaria que se pudesse seguir.

Se alguém se recusa a ir adiante, não posso evitar que eu o faça.

Nascer nos coloca em compromisso com o mundo, não apenas com o ventre.

Sou minha e do universo, sem ser de mais ninguém.
Escolho minhas companhias por liberdade.
Não por dependência.

Devo andar. 
E não me espere pro jantar.


Um comentário:

Douglas Dickel disse...

Emocionante.
Emocionou-me.
Emocionei-me.

"Nascer nos coloca em compromisso com o mundo, não apenas com o ventre." :)