segunda-feira, dezembro 06, 2010

A feiticeira e o (anti)nauta

Ah Jasão ingrato
vai-te pra bem longe.

Me lançaste ao pó,
ao árido, à poeira seca
da terra que não dá frutos.
Me empoeiraste, Jasão.
Me tornaste opaca.

Te dei meus beijos, meu sangue.
Meu suor recebeste com mel,
mas me deixaste a morrer de sede ao teu lado.

Ah Jasão, tu não cabes mais em mim.
Me banhei na tempestade,
me hidratei até me afogar.
A chuva inundou meus passos,
me fez líquida e luminosa.
A chuva me fez liquidar tua presença em mim.

Hoje sou feita do que não te pertence, Jasão.
Sou feita do que és incapaz de entender e tocar.

Na tua terra rachada minhas gotas não se derramam,
não tentam mais escorrer pelas tuas fendas escuras, tuas paredes duras.

Sempre foste inábil para viver a chuva,
beber a enchente,
lamber a umidade
que invadia tua casa inóspita.

Jasão de barro quebradiço e farelento!
Precisas de mais para virar terra fértil, lar acolhedor!

Agora eu sou pomar, Jasão!
Pomar molhado de orvalho e carregado de frutas.
Minhas árvores renasceram no temporal.
A água limpou tua névoa seca de areia ao vento.
Sou verdejante outra vez.

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