terça-feira, julho 29, 2008

O homem atrasado

Era uma vez...
um homem que vivia atrasado.

Já no parto, seu atraso forçou o médico a fazer uma cesariana.
Depois de nove meses ele continuava parado e nada de nascer.
Nasceu meio que à força.

Durante seus anos de escola,
chegou atrasado todos os dias que pode.
Para tentar evitar, adiantou seu relógio em uma hora.
Mas mesmo assim não chegava no horário.
A cada dia que passava adiantava o relógio mais um pouco,
esperando que um dia conseguisse
entrar em acerto com o tempo.
Ao entrar na faculdade seu relógio e seu cronograma
estavam adiantados em dias...semanas...anos!
Tamanho seu esforço e tamanho seu insucesso.

Com os anos a passar,
ele desistiu.
Percebeu que era vã toda a tentativa.
E que, se esse era seu destino...que assim ficasse.

O que não conseguia perceber, até aquele momento,
talvez por toda essa preocupação com um ritmo que não era seu,
é que seu atraso também lhe permitia evitar a precipitação.
Chegava depois de todo atropelo e toda afobação.

Chegava
sempre com terreno pronto pra semear.
Chegava
conseguindo até as fatalidades evitar.

Quando todos estavam se amontoando e lutanto e brigando,
ele se atrasava e chegava na hora da temperança.
Perdia os furacões, mas chegava no momento próprio para as reconstruções.

Não era homem para impulsionar,
mas era homem para harmonizar.
(ou seria o contrário?!)

Na velhice, que para ele também chegou depois do tempo habitual,
se atrasava para as doenças e nelas chegava só quando já havia a cura.

A morte veio encontrá-lo uma única vez.
Mas não o levou.
Seu horário é preciso e em questão de segundos,
outras pessoas ela já precisa encaminhar.

E, assim sendo, ele, dela se perdeu.

O homem atrasado
tem vida infinita e incomum,
diferente de qualquer outra.

Para ele não servem as mesmas regras,
nem as mesmas condições.
Diferente, ele tem suas próprias questões.
Seu papel único a desempenhar.

E, quem sabe...
Talvez...
no dia em que o movimento não exista por imposição...
ele possa descansar.

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