quinta-feira, outubro 17, 2019

abismos repaginados

Quando me atirei ao abismo,
eu já o sabia.

Sabia do risco
De não ter volta

Me lancei com medo e não alcei vôo.

Esbarrei nas pedras.
Me cortei nos arbustos do penhasco.

Quando me atirei ao abismo,
eu já o sabia.

Mas quis o perigo mesmo assim.
Me sabendo tola,
me arrisquei mesmo assim.

Uma vontade absurda de perdição,
De sentir a transitoriedade da vida,
De ser kamikase.

Um desprezo pelo ordinário,
uma arrogância pelo sensato.

Pacato, cordato,
que chato.

Quando me atirei ao abismo,
eu já o sabia.

Havia certeza do erro,
Do engano,
Mas da arte do imprevisto.

Otimista e inconsequente
me joguei mesmo assim.

Fantasiando um percurso inesperado,
previamente sabido fracassado.

Queria ser capaz de alterar leis físicas.
Prepotência andante.

Mas era abismo.
E eu já o sabia sem volta.


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