Na metade de agosto foi uma época especial em Porto Alegre.
Nesses dias, houveram três encontros com um dos maiores teóricos do teatro na atualidade: Hans Thies-Lehmann.
De fato ele não disse nada de muito novo, para quem já leu seus livros, mas vê-lo falar e se posicionar foi uma experiência extremamente gratificante!
Homem simples, de estatura mediana e sorriso sempre agradável, o Prof. Lehmann é de um encanto inusitado para acadêmicos. Falando sobre teorias complexas de maneira simples e eficiente, ele nos faz lembrar que nem toda a teoria é sisuda e que às vezes é a gente que complica demais as coisas.
Em sua palestra inicial, Lehmann ofereceu um resumo atrativo para tudo o que desenvolve em seus livros (quem leu, quer ler de novo; e quem não leu percebe que, definitivamente, precisa começar a ler!). Apontamentos sobre o estatuto autônomo da arte teatral em relação ao drama, da existência de sujeitos conectados em redes e sem individualidades afirmadas, das distinções entre arte e entretenimento, ou mesmo da redescoberta do teatro como espaço de coexistência para todas as formas de arte, foram enriquecedores para a plateia porto-alegrense.
Na roda de debates, que ocorreu durante a noite da quinta-feira, foi gritante a dificuldade de alguns profisionais da área em dialogar com o Prof. Lehmann. Enquanto poucos se preocuparam em discutir arte, outros tantos pensavam em questões de mercado que, talvez, interessassem muito mais aos sociólogos - como foi muito bem colocado pelo Prof. duarante a palestra da manhã - quando disse que aos teóricos da arte não interessariam tanto as correntes mais numerosas do fazer artítico, mas sim as inovadoras proposições de linguagem dentro dos trabalhos apresentados.
Na sexta-feira, sua palestra se realizou após o relato de sua esposa, a crítica e teórica teatral grega Eleni Varopoulos - que apresentou a descrição de várias encenações contemporâneas de tragédias e comédias clássicas.
Lehmann, enfatizou a questão política do teatro contemporâneo em manifestação muito distinta da que se verificava nas peças, geralmente panfletárias, do século passado. Ele discorreu sobre a postura política da aparente não politização no pós-dramático, ou o que se poderia dizer uma politização mais sutil e deslocada em termos de posições binárias. É uma visão de política que é exercida como parte de uma existência, sem ser pensada como propaganda ideológica, mas apenas como implicação das discussões éticas, e por que não estéticas, que permeiam nossa sociedade.
Mas o ponto que perpassou todas as conversas com o Prof. Lehmann, e que deve ser lembrada sempre, é a ênfase na criação e no trabalho do artista como experiências únicas, reveladas ao público sem a preocupação com a razão - com o fazer sentido ou ser compreensível. A experimentação da linguagem, que poderia definir em certa medida o artístico contemporâneo, jamais deveria se colocar a mercê do desejo do público ou das necessidades de mercado. E, em certa medida, senti até mesmo uma espécie de solicitação aos que ainda acreditam nessa condição de artista: permaneçam fiéis fundamentalmente a si mesmos, pois sua arte é intransferível a si.
Depois disso me parece desnecessário dizr qualquer outra coisa.
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